quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Outra História Americana


É triste perceber que depois de quase 15 anos o enredo de A Outra História Americana continue tão atual... no Brasil, em várias partes da Europa e nos Estados Unidos. Dirigido por Tony Kaye no primeiro grande papel de Edward Norton o filme mostra a trajetória Derek, um skinhead que após matar friamente dois negros e cumprir pena por (apenas) três anos tenta impedir que seu irmão (Edward Furlong) siga o mesmo caminho.


Derek teria se tornado um neonazista após a morte do pai quando se aproximou de um perigoso racista que viu no jovem a pessoa certa para formar um grupo de skinheads no subúrbio de Los Angeles. Os argumentos não são apenas raciais mas também religiosos. Na visão dos radicais somente arianos protestantes seriam merecedores de viverem nos EUA e que negros, asiáticos e latinos estragam a cultura americana.


É somente na cadeia que Derek percebe que suas convicções são extremamente falaciosas quando faz amizade com um negro que cumpria pena de seis anos por ter roubado uma TV enquanto que ele cumpria três por ter matado dois negros. Ele também percebe que seus ideais etnocêntricos são uma forma deturpada e doentia de analisar a sociedade quando é violentado por seus próprios pares.


Ao sair da cadeia seu irmão está seguindo mesmo caminho radical, mais por ver no irmão mais velho um modelo de homem do que por convicções reais. A luta de Derek pode ser tardia, pois os conflitos raciais cresceram muito na sua ausência e seu irmão já trilhara um longo caminho equivocado.


É importante frisar também que o filme aborda, com essa história, que a origem do racismo e do preconceito nasce antes em casa do que nas ruas. Os irmãos seguiram uma trajetória torta em grande parte porque seu pai, que morrera como herói (um bombeiro em serviço), era racista, muito embora isso não fosse tão evidente para os dois irmãos e sua mãe. Apenas sua irmã mais velha percebia e tentava argumentar mas talvez por ser mulher numa família racista e provavelmente machista não tivesse voz.


E é essa abordagem perigosa que vemos crescendo, por exemplo, no Brasil contra negros, índios e homossexuais. Os argumentos de que negro quando fica rico quer casar com uma loira, que os índios têm muita terra ou que está na moda ser homossexual são tão preconceituosos quanto os defendidos pelos skinheads de A Outra História Americana.


Uma grande diferença é que o “nosso racismo” e o “nosso preconceito” são muitas vezes velados, travestidos de argumentos como “eu tenho um amigo (negro/índio/gay) mas...”. E não se usa mais os cabelos raspados da década de 90 e sim políticos proeminentes como Jair Bolsonaro e muitos outros.


E se antes a tática era raspar a cabeça para que todos soubessem quem eram os neonazistas, agora a estratégia é outra. A idéia é se misturar na sociedade para tentar influenciar as pessoas com seus argumentos estúpidos. E o pior é que tem muita gente aceitando isso!

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